Vida do Irmão Josafat

Pax et Bonum!

Em nome do Senhor começa a vida do Irmão Josaphát Maria, O. T. F.

Ir. Josaphát no dia de sua vestição na Ordem Terceira.

Irmão Josaphát Maria, de nome civil Mateus Ângelo Torres da Silva, nasceu na cidade de São Paulo, Brasil, no dia 3 de setembro do ano do Senhor de 2001. Filho de pais católicos, era o mais velho de dois irmãos e uma irmã, sendo criado em um lar católico.

Desde cedo, Mateus demonstrou grande zelo pela fé e pela Santa Igreja. Em sua trajetória acadêmica, estudou no Cursinho Decerto, onde se destacou como um aluno brilhante. Seu empenho e dedicação levaram-no a ser aprovado em 26º lugar na ETEC de São Paulo e em 13º lugar em uma Universidade Federal. Mesmo com um futuro acadêmico promissor, seu coração ardia pelo serviço a Deus e pela busca da verdade da Tradição Católica.

Compreendendo a crise eclesiástica dos tempos modernos, adotou a posição teológica da Sede Vacante e, com grande ardor, buscou um seminário verdadeiramente fiel à Tradição católica. Foi então que conheceu a Sociedade Sacerdotal Trento, no México, onde ingressou com o objetivo de ser ordenado sacerdote. No entanto, por dificuldades com o visto, precisou retornar ao Brasil, o que não diminuiu seu fervor e seu desejo de servir a Deus.

De volta ao Brasil, Mateus conheceu primeiramente os Frades Menores, aproximando-se deles com grande interesse. Posteriormente, manifestou o desejo de ingressar na Ordem Terceira Franciscana. Com a devida autorização, aproximou-se dos Frades Menores e, ao ser acolhido com amor pela comunidade, decidiu tornar-se parte dessa sagrada fraternidade como Terciário Secular. Desde então, passou a ser chamado de Irmão Josaphát Maria, O. T. F., embora continuasse carinhosamente conhecido como Frater entre seus irmãos e fiéis.

Ir. Josaphát recebendo o hábito da Ordem Terceira

Durante seu tempo entre os Frades Menores, o Irmão Josaphát Maria revelou virtudes heróicas e uma alma verdadeiramente franciscana. Frater Mateus, movido por um profundo anseio de consagração total a Deus, expressou repetidas vezes seu ardente desejo de ingressar na Ordem Primeira de São Francisco. Seu coração, inflamado pelo ideal seráfico, aspirava a uma vida ainda mais entregue à observância dos votos religiosos, e ele não hesitava em manifestar essa intenção entre seus confrades.

Contudo, por prudência e discernimento, seus superiores avaliaram que esse passo não correspondia aos desígnios da Providência para sua vida naquele momento. Por essa razão, negaram seu pedido em diversas ocasiões, chegando a fazê-lo múltiplas vezes em um único dia. Dessa forma, reconheceram que a vontade de Deus para Frater Mateus se manifestava de maneira diversa, conduzindo-o por outros caminhos de santificação. Em uma ocasião, o superior afirmou-lhe que, caso o Seminário não prosperasse, poderia ser reconsiderada sua admissão à Ordem Primeira.

Entre os muitos projetos aos quais Frater Mateus se dedicou com zelo, destacou-se sua atuação no Seminário Cristo Rei, instituição voltada à formação de sacerdotes, na qual exerceu papel fundamental. Desde o início, foi um pilar essencial na estruturação do seminário, contribuindo tanto na formação dos seminaristas quanto na administração cotidiana da casa. Seu compromisso com a obra era evidente, e sua presença tornou-se indispensável para a continuidade do projeto.

Enquanto supervisor entre os seminaristas, demonstrou com clareza as virtudes da prudência, mansidão e paciência, conquistando o respeito e a estima de seus irmãos. Sua dedicação e espírito de sacrifício foram fundamentais para o crescimento da instituição, à qual se entregou com diligência e abnegação.

Frater auxiliando no recebimento das carteiras do Centro Catequético

Mas, ó mistério da Divina Providência! Foi justamente seu falecimento que levou ao encerramento do seminário, como que selando com seu próprio sacrifício o desígnio divino para sua vida. Assim, aquele que tanto desejou ingressar na Ordem Primeira, viu-se chamado por Deus a consumar sua vocação na condição de seminarista secular, cumprindo, no breve tempo que lhe restava neste vale de lágrimas, a missão que lhe fora designada para Sua maior glória.

Além de sua atuação no seminário, empenhou-se com zelo na Capela Nossa Senhora do Desterro, em Botucatu/SP, auxiliando constantemente nas necessidades da capela. Com generosidade e incansável espírito de serviço, contribuiu para o avanço de importantes projetos, entre eles a edificação de um centro catequético e a futura fundação de uma escola, cujos preparativos já estavam em andamento.

Sua alegria contagiava todos ao seu redor, iluminando até mesmo aqueles que enfrentavam momentos de tristeza. Com um espírito incansável de serviço, foi exemplo de trabalho diligente e de absoluta conformidade com a Divina Providência. Suas palavras mais marcantes permaneceram na memória da comunidade:“A Providência Divina tudo dispõe!” e “Laus Deo!”

Ir. Josaphát durante a cerimônia de vestição

Como verdadeiro franciscano, viveu a Santa Pobreza com profunda devoção, amando a Ordem e venerando com especial fervor nosso Pai Seráfico, São Francisco de Assis. Devotíssimo da Santíssima Virgem Maria, nunca era visto sem seu rosário nas mãos. A cada Ave-Maria, osculava o rosário, demonstrando um amor filial à Mãe de Deus. Sua castidade era notória, sempre mantendo os olhos recolhidos, suas palavras puras e suas ações irrepreensíveis. Seu espírito de obediência era admirável, temendo entristecer seus superiores e buscando sempre cumprir a vontade de Deus. Sua piedade era manifesta em sua constante oração: fosse no terço, no breviário ou na adoração ao Santíssimo Sacramento, onde passava todo o tempo possível quando não estava cumprindo seus deveres.

No dia de seu falecimento, antes de partir do convento, Frater Mateus havia assumido espontaneamente a responsabilidade de protocolar documentos da Associação dos Frades no Cartório de Pessoa Jurídica de Porangaba-SP, um dever que inicialmente caberia a outro irmão. Com espírito de generosidade e dedicação, ofereceu-se para cumprir essa tarefa em seu lugar. Antes de sair, confidenciou a um confrade seu desejo de resolver prontamente o trabalho, a fim de retornar a tempo de receber a Santa Comunhão. Seu exílio neste mundo chegou ao fim de maneira súbita, segundo os desígnios insondáveis da Providência Divina. No dia 29 de dezembro de 2023, aos 22 anos, o Irmão Josaphát Maria faleceu em um acidente de trânsito na Rodovia Camilo Príncipe de Moraes (SP-141), próximo a Bofete, São Paulo. Durante uma tentativa de ultrapassagem, seu carro colidiu frontalmente com uma carreta, e ele veio a óbito no local.

Foto do acidente

Assim que os Religiosos receberam a notícia do acidente, o sino do convento ressoou o toque da agonia, um toque fúnebre que convoca toda a comunidade a se reunir diante do leito de um religioso moribundo ou para anunciar uma morte. Muitos, sem saber o motivo do chamado, atenderam com apreensão, mas, ao se reunirem e tomarem conhecimento da tragédia, uma profunda comoção tomou conta de todos. As lágrimas foram inevitáveis, e os lamentos ecoaram entre os irmãos, que, unidos na dor, choravam a perda do querido Frater Josaphát Maria. O silêncio carregado de pesar, entrecortado pelo pranto e pela oração, permanecerá para sempre gravado na memória e nos corações dos Religiosos, como um momento de profunda tristeza e unidade na fé diante dos insondáveis desígnios de Deus.

Jazigo Perpétuo dos Frades Franciscanos em construção.

Seu falecimento foi sentido profundamente pela comunidade religiosa e pelos fiéis que tiveram a graça de conhecê-lo. Especialmente, todos os fiéis católicos sedevacantistas no Brasil e no exterior, como no México e nos Estados Unidos, lamentaram sua partida precoce.

No dia 30 de dezembro de 2023, seu corpo foi velado no Seminário Seráfico São Boaventura, em Itatinga-SP. Após a Missa de corpo presente, que contou com a presença de toda a comunidade religiosa dos Frades, dos fiéis e dos familiares do Frater, seguiu-se um longo cortejo fúnebre feito de automóvel até o Cemitério Municipal da Saudade, em Itatinga-SP, onde foi sepultado no Jazigo Perpétuo dos Frades.

Após vários meses de contínuos trabalhos, os religiosos edificaram um modesto, porém digno, jazigo onde repousam os restos mortais do caríssimo Frater, que faleceu com fama de virtudes. Na placa mortuária onde jaz seu corpo, encontra-se inscrito em latim:

“NATVS DIE III-IX-MMI
HIC IACET
MATEVS ANGELO TORRES DA SILVA
SEMINARII CHRISTI REGIS ALVMNVS
QUI OBIIT DIE XXIX-XII-MMXXIII
ET CVIVS ORI NVNQUAM DEFVIT LAVS DEO.”

Jazigo Perpétuo dos Frades concluído.

Tradução:

“Nascido no dia 3 de setembro de 2001,
Aqui jaz
Mateus Ângelo Torres da Silva,
Aluno do Seminário Cristo Rei,
Que faleceu no dia 29 de dezembro de 2023,
E em cuja boca nunca faltou o louvor a Deus.”

Após o término da edificação do Jazigo Perpétuo, no dia 31 de agosto de 2024, na Capela Nossa Senhora de Loreto, no Seminário Seráfico São Boaventura, em Itatinga/SP, foi realizada uma Missa Cantada de Réquiem pelo Frater Mateus, celebrada pelo Reverendo Padre Gerard McKee, CMRI, sacerdote americano da Congregação Maria Rainha Imaculada (CMRI), contando com a presença dos Frades e de muitos fiéis. Após a Missa, todos se dirigiram ao Cemitério da Saudade, na mesma cidade, onde houve uma Via Sacra, sendo a última estação no Jazigo dos Frades Menores. Ao final, o Rev. Pe. Gerard McKee abençoou as imagens do jazigo, selando assim, com piedade e devoção, a memória daquele que viveu e morreu para a maior glória de Deus.

Rev. Pe. Gerard McKee, CMRI, abençoando imagens da Capela do jazigo.

A Ordem Terceira Franciscana e todos os que compartilharam de sua convivência guardam em seus corações a lembrança de um jovem que, com humildade e alegria, se entregou inteiramente ao serviço do Altíssimo.

LAVS DEO

Por:
Frei Serafim Maria da Santa Casa de Loreto, O. F. M. Sub
Frei Conrado do Imaculado Coração de Maria, O. F. M. Sub