
Aos caros fiéis
“A boa educação é moeda de ouro. Em todo lugar tem valor”
Sem educação é impossível ter resistência contra o revolucionário processo travado no campo da Igreja, pois isso está além das limitadas margens de uma militância febril contra quem quer que seja. E temos cá nosso próprio exemplar a ser seguido, e não desprezado, de uma formação clara.
Em idade tão avançada da era do Concílio Vaticano II, não se pode passar sem menção os freios e a resistência brasileira articulada após 62 e os seus desdobramentos sustentados por Dom Antônio de Castro Mayer. É notório toda a movimentação de outras autoridades antes da década de 60, e até certo ponto durante o Concílio de Roncalli e Montini, mas que perdeu toda a articulação e toda a coesão face às mudanças seguintes; e que permaneceu em certa medida centradas nas figuras do arcebispo francês Dom Marcel Lefebvre e de Dom Antônio de Castro Mayer, sendo neste último a parte que mais nos toca.
O bispo de Campos recebeu uma educação bem completa: primeiramente foi discente de Dom Duarte Leopoldo e Silva e enviado pelo mesmo à Gregoriana em Roma, onde será ordenado por Dom Basílio Pompilj. Sem dúvida essa educação terá importância, não apenas no bispo resistente e conciliar-ultramontano, mas como o bispo ensaísta e líder de diocese; em que dadas as circunstâncias isso implica em direcionamento da formação e reorganização do clero coadjutor: trabalho esse nada surpreendente, pois após retornar de Roma, Dom Antônio se tornou por mais de uma década professor do Seminário Central do Ipiranga da Arquidiocese de São Paulo, atuando depois entre diversos cargos inter relacionados e tendo como consequência o episcopado de Campos, cuja sagração foi realizada pelo núncio Dom Carlo Chiarlo.
Trabalhou com a Ação Católica, onde iniciou uma longa amizade com o seu diretor, o então futuro fundador da TFP e ex-deputado federal da Constituinte de 1934, Dr. Plínio Corrêa de Oliveira. Depois com diversos encargos e ofícios, o bispo de Campos realizou alguns trabalhos na PUC de São Paulo, no tempo de José Pedro Galvão de Sousa.
Apesar da pouca contribuição, devido aos seus trabalhos, é o fundador do periódico Catolicismo, e também apoiou obras anticomunistas no Brasil, como a publicação do livro “Reforma Agrária, uma questão de consciência”.
Todos os seus trabalhos o preparam para o governo da diocese de Campos e para a reorganização da mesma nos anos 70 e 80, uma pequena resistência brasileira, a União Sacerdotal São João Maria Vianney, e única de seu gênero: com processos judiciais dolorosos e toda a sorte de perseguições. Essas décadas são marcadas pelo desgaste com a TFP, com os bispos Novus Ordo, e o isolamento natural de um bispo que resistia não só pela força mas pela pena, escrevendo alguns artigos e se aprofundando no problema da crise.
Dom Antônio de Castro Mayer em pessoa não deixou sucessor, nem mesmo concretizou as ambições de um seminário grande, que certamente o tinha. Seus padres passam a ser formados ou em Écône, na Suíça, ou em La Reja, na Argentina, mas sobretudo em La Reja. Desde então trava o destino da sua União Sacerdotal ao da Fraternidade de Dom Marcel Lefebvre, seu último apoio.
Nos últimos anos de vida realizou seu mais importante ato público, em Écône: as sagrações de 1988, sendo na prática um ato harmonizado com as ações da Fraternidade Sacerdotal São Pio X de Dom Marcel Lefebvre, mas que é preciso ainda hoje separar as duas linhas magisteriais cotejadas que se travavam entre os dois bispos resistentes. Por um lado, Dom Antônio deixava escapar uma tendência mais forte e firme, e por outro, Dom Lefebvre cada vez menos crítico. Nesses anos seus padres, assim como a Fraternidade, seguiram rezando missa Una Cum, unidos ao que consideravam ser o bispo local, e ao chamado João Paulo II. Desconcertante para com as declarações de Dom Antônio de Castro Mayer. “Que autoridade?” declarou na Suíça no Seminário de Écône. São esses trechos obscuros de sua biografia que denotam a falta do mesmo espírito nos que se diziam ser seus correligionários e denotam também os princípios da extinção da USSJMV para dar lugar à Administração Apostólica.
A formação claudicante de seus sucessores contrastam, e muito, com a clareza da de seu fundador. A influência crescente da fraternidade, a incapacidade de formar seus novos padres, a falta de horizontes na paisagem “RR” levam os sucessores do bispo de Campos para a capitulação pouco tempo depois após a sua morte, em 25 de abril de 1991: fruto amargo de uma má formação e das dissensões internas que germinavam em sua obra.
Não é suficiente julgar Dom Antônio pelo prisma da medíocre obra levada a cabo por Dom Fernando A. Rifan. Uma antítese da resistência de um bispo católico e a consequência lógica, não do pensamento de Dom Antônio de Castro Mayer, mas da formação recebida da Fraternidade de Dom Lefebvre.
— Artigo por Frei João Maria Vianney A. Aguiar de Matos, O. F. M. Sub
Ad Clerum
Antonius natus est in oppido Campinensi, Sancti Pauli Provinciae in Brasilia, anno milesimo nongentesimo quarto, e catholica familia ortus. Agens anno duodecimo aetatis suae ingressus est Seminarium minus quod a Praemonstratensibus sacerdotibus regebatur, et postea anno milesimo nongentesimo vicesimo secundo incepit studia in Seminario majori Sancti Pauli. Bonis obtentis profectibus in examinibus Seminarii missus est Romam a Duarte Leopoldo e Silva episcopo ut in Gregoriana Academia studia sua compleret. Anno milesimo nongentesimo vicesimo septimo ordinatus est a Basilio Cardinali Pompilij et paulo post ascendit gradum doctoris theologiae. Redux in Brasiliam P. Antonius factus est praelector Seminarii Sancti Pauli docuitque Philosophiam, Historiam Philosophiae et Theologiam Dogmaticam per annos tredecim.
Anno milesimo nongentesimo quadragesimo primo nominatus est canonicus Capituli Metropolitani Sancti Pauli et postmodum electus Vicarius Generalis. Post annos tres munere Vicarii Oeconomi functus est in Paroecia São José do Belém et vacabat disciplinis Religionis et Doctrinae Socialis Catholicae in Faculdade Paulista de Direito et in Instituto Sede Sapientiae. Die vicesima tertia mensis Maji anni milesimi nongentesimi quadragesimi octavi ordinatus est episcopus coadjutor pro dioecesi Camponensi in Fluminis Januarii Provincia. Anno sequenti mortuo episcopo dioecesano Revmus. Dnus. Antonius gubernaculum suae dioecesis accepit eamque rexit usque ad annum milesimum nongentesimum octogesimum primum, quo anno jussus est munus suum resignare.
Comparuit ad Concilium Vaticanum II, sed renuit consentire cum aptatione Ecclesiae ad saeculum seu conformatione ejusdem cum mundo, probabiliter ob instructionem quam susceperat tempore Seminarii, quae instructio eum urgebat ut semper ageret secundum mentem, doctrinam et constitutionem Ecclesiae prout exstiterunt usque ad eos qui Vaticanum II praecesserunt, annos. Eapropter renuit Novo Ordine Missae uti et prae innovationibus Concilii ferebat semper traditionalem Ecclesiae disciplinam.
Post Antonii resignationem successor sacerdotes quos ille erudierat juxta veram mentem Ecclesiae persecutus est, eos expellens de dioecesis ecclesiis, quapropter iidem sacerdotes ad Antonium recurrerunt, qui tum Unionem Sacerdotalem S. Joannem Mariam Vianney fundavit ut illos sacerdotes reciperet apud se novosque ordinaret qui traditionalem Ecclesiae doctrinam profiterentur.
Societatem habuit cum Revmo. Dno. Marcello Lefebvre episcopo etiam resistente adversus Concilium Vaticanum II, et quidem adfuit consecrationi episcopali habitae in vico Esquiniae anno milesimo nongentesimo octogesimo octavo, in qua quattuor sacerdotes ordinati sunt episcopi a Marcello Lefebvre et Antonio Mayer. Hoc fecerunt ut episcopi ordinati continuitatem praeberent sacerdotio catholico, quod in periculo jacebat ob modernistam apostasiam in Vaticano II ortam. Etiam in vico Esquiniae sermonem dedit Antonius agens de apostasia in Ecclesia manifestansque se credere Joannem Paulum II auctoritatem amisisse ob errores doctrinales quos hic docuerat Ecclesiam, quae confessio affinis est sedevacantismo, i. e. asserto affirmanti hominem qui fidem catholicam non habeat Apostolicam Sedem occupare non posse, quapropter eadem Sedes vacat usque a S. S. Pii XII morte, cum ejus successores publice et voluntarie errata docuerint et doceant, quod demonstrat eos fidem catholicam non habere.
Etiam anno milesimo nongentesimo octogesimo octavo in Brasilia ordinavit presbyterum, et hoc ultima est publica episcopi actio. Relinquens omnibus fidelibus magnum defensionis et proelii pro fide catholica exemplar, Antonius defunctus est die vicesima quinta mensis Aprilis anni milesimi nongentesimi nonagesimi primi sepultusque in ecclesia Tertii Ordinis B. M. V. de Monte Carmelo.
— Scriptum exaratum a Fr. Pacifico-Maria dos Santos Silva, O. F. M. Sub